Neste início de manhã eu pensei devotamente mais um
vez no Amor. Você que tantas vezes toma o coração dos homens como uma volúpia
eterna; que enche os corações de vigor e superação; que dá sentido à vida
quando não há mais chances para vender pelas próprias forças. O Amor é um
antídoto para a alma em desespero, combustível para que todas as manhãs eu
possa pensar em você novamente. E por isso todo o verbo que eu sugiro tem
cuidado para de alguma forma se esbarrar em você: porque você me deu o ar que
enche os pulmões cheios da fumaça da indiferença, expulsando-a; me deu o correr
do sangue clamor da juventude eterna e da imortalidade do sentimento.
Amor, eu queria que meus versos, meu sempre último
poema de amor, tivesse o seu efeito. Ai amor, como eu sofro pelas linhas
rimadas. Como sofro pela palavra nunca dita, o olhar desviado, o sorriso
contido e o sentimento cortado. Eu não queria nunca me cortar, sangrar sem
necessidade, mas é impossível neste sentimento não se cortar, não se arranhar,
não amarrotar o convite à esperança plena.
Eu invejo os voluptuosos amantes. Cheios de vigor no
seus encontros. Quando os amantes tocam a alma, um fluido de sintonia e
prosperidade invade o ar. Fico inebriado pelo profundo beijo que irradia uma
luz imensa que clareia todo o meu ser - quase nulo em tudo. Ficaria, eu, horas
e horas a contemplar a Beleza que não tenho, o Dia que não vem. Mas se eu
fizesse isso enlouqueceria. Minha alma tem uma ferida que só se cura com um
amor de volúpia. Esses amores que unem os corpos e deixam no ar um perfume que
embriaga a totalidade dos homens. Longe de ser devassa, esse amor-volúpia não
mancha, só limpa, porque já nasceu na limpidez de um tez translúcida, corada
pela essência do bálsamo do encanto.
Eu, hoje, amo um Anjo. Pena que está longe da minha
experiência. Um anjo feminino. Mal sabe este anjo que todos meus poemas são
seus, porque de seu sorriso brotou. Mal sabe este anjo que todas as minhas
aspirações são para contemplar sua beleza morena. Mal sabe este anjo que no meu
interior eu investigo seus passos para saber se eles vão se afastar mais de
mim. Ai anjo, me guarda, me protege! Queria que você fosse meu sentinela!
Neste coração que bate profusamente em passos do
silêncio há um clamor que nunca cessa. Nele existe um oceano de ventura, as mais
altas evaporações de sentimento. Eu quis tê-La e terminei sendo tomado como um
alma perdida em um deserto vertiginoso onde o brilho do seu olhar é o sol que
me conduz para a verdadeira Miragem.
Olavo Barreto.
Olavo Barreto.
