Quando morre um poeta,
morre com ele a necessidade da palavra.
Fez o café, sentou na mesa e escreveu.
sexta-feira, 20 de novembro de 2020
Morte do poeta
sábado, 31 de outubro de 2020
Emulação de Cecília
O vento voa,a noite toda se atordoa,a folha cai.
Haverá mesmo algum pensamentosobre essa noite? Sobre esse vento?Sobre essa folha que se vai?¹
Caída entre tantas outras
nesse mar noturno,
cujas ondas, nebulosas,
me arrastam solitária,
para o lugar que já se foi.
Essa folha sou eu.
Cândida pétala do azul esverdeado;
resto de magia
para um amor que nunca houve,
para um amor que nunca teve,
para um amor que nunca ousou
em se chamar de amor.
Essa folha sou eu.
Claustro do meu sono,
etéreo sonho, natimorto.
Essa folha sou eu.
Cálida, seca, sem mim,
entre tantas outras,
nessa noite luminosa
em que sou arrastada,
conduzida e amordaçada,
findando no calabouço
que me perdeu.
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
Deleitor de Dom Casmurro
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
Cartas
Eu tenho cartas. Algumas delas guardadas num diário. Sei que posso me arrepender por elas, sei que pode ser libertador às direcionar aos seus destinatários. Mas elas existem e isso já é muito sintomático para quem tem saudade do que se sabe e do que se imagina. Para quê guardar cartas? Para quê guardar mágoas e outros sentimentos? Quem guarda cartas como as que tenho, não difere muito dos que têm bombas, dos que têm armas, dos que têm a fé e o sangue nos olhos para levantar uma muralha ou cair de um penhasco. Eu tenho cartas e isso tudo já diz muito sobre meu eu, minhas crenças e minha impossibilidade de enviá-las. Sou um menino num monte, isolado, na busca de uma solidão interior na qual se ouve apenas a música da melancolia de suas decisões pseudas. Sou esse menino que cria cenários e imagina o mundo no qual se podem viver em elipses ao mesmo tempo em que se expressam orações declarativas com ponto de exclamação no final. Eu tenho cartas. E elas podem ser destinadas ou serem guardadas com túmulos, em confessionários ou nas ondas do mar entre pétalas brancas e perfume da alma de flores. Vêm os dias, vêm as distâncias, o coração acelera, o coração acalma, vêm os pensamentos, vêm os carmas, vem a vida na luz de vela, síncope estagnada. Eu tenho cartas. Uma, duas, três, as que escrevi, as que queimei, as que foram entregues, as que nunca serão, as que ainda não foram feitas. De despedida, de amor, de consolo, de desagravo, de perdão, de culpa, de absolvição. Eu não posso fazer nada se elas existem e quebram todos os dias a possibilidade de ação, porque elas são bombas, são rifles, são armas, mesmo sendo cartas. Eu tenho cartas e quisera eu ter um amigo que as pudesse ler. Um amigo íntimo que não quebrasse o sigilo, o selo dos conteúdos que me amarram em sonhos, em ideações, em fugas e em arrependimentos. Onde está esse amigo? onde está sua face que ainda não encontrei? Na verdade, eu creio na sua existência no moço do espelho, no menino do espelho, no homem do espelho, no velho do espelho, tão somente neles. Somente ele é casa eterna e cofre seguro. E saiba, ele tem cartas. Cartas de condenação, cartas de remissão, cartas que abrem cartas. De futuro elas entendem, profetizas, bruxas, videntes do amanhecer. Só as cartas podem vencer a peste que é padecer nos sentimentos que tornam os meus pés e minhas mãos frios ao sol flamejante. Eu tenho cartas e lerei para você em sonho. Naquele dia em que teu corpo sofrer a maior calúnia de um dia cheio, naquele dia em que teus olhos estiverem ardentes e que o fogo da tua alma queime teus lençóis, em delírio. Nesse mesmo dia, no sonho, irei aparecer em bilocação para te ler as minhas cartas santas, etéreas, de um deus interior que me governa. Eu tenho cartas.
domingo, 26 de abril de 2020
Quarentena
terça-feira, 11 de fevereiro de 2020
Regras de fogo
Constam em mim as novas regras:
aquelas que minha alma nega;
aquelas que sombram à minha frente;
as que se fixam na minha mente;
as que nunca, agora, se esperam.
Constam em mim as regras de fogo:
as que me fazem um ser todo novo;
as que me luzem e me guardam;
as que centelham de conhecimento;
as que me invadem.
Constam em mim as regras de luzidia:
as que me fundam e em mim nascem;
as que me operam em consolação;
as que mostram o que é duro;
as que sopram, batem no muro;
as que desvendam a minha mão.