Você
já foi ao teatro? Essa é uma pergunta muito difícil de responder. Afinal, o que
é mesmo teatro? Passei alguns anos da minha vida sem saber o que é, realmente,
o significado essencial deste termo. Sempre no colégio, na igreja... vi
filetes de teatro, como sempre, nada de profissional. Já até protagonizei
alguns personagens... já participei até de pantomimas... mas nada vai se igualar
ao dia que fui assistir a peça “Anáguas”.
Cândida, Maria das Graças e Maria Exaurina (per- sonagens da peça "Anáguas") |
Era
uma quinta feira, cheguei ao local com bastante entusiasmo. Afinal, iria pela
primeira vez assistir uma peça realmente ostentosa. Cenário escuro, candeeiros
acesos... cheiro de alfazema com Capim-santo, sentei no meio do cenário. A peça
transcorria entre nós, espectadores, que ao paço do embalo musical do verso “Abraça
eu mamãe, embala eu mamãe... tem dó de mim...” entoado pelas atrizes, éramos
hipnotizados com aquele ambiente. Eu, no meu ato contemplativo daquela cena,
fui transmutado a algum tipo de mundo interior, para uma nova consciência que
volta e meia me trazia lembranças inconscientes, como se naquele momento, eu
mesmo, fazia parte da peça.
Aqueles
nomes, aqueles gestos... me incomodavam. Maria Exaurina, Cândida, a velha Maria
das Graças. Como aqueles personagens me incomodavam. Cada palavra soava como
uma espada transpassando meu intelecto. A velha que tossia, as poses debochadas
de Cândida, as palavras de auto calão de Maria Exaurina. Os cânticos, os
gestos. Toda a cinese da peça me transpassou. Não tive tempo de pensar outra
coisa, eu tinha sido arrebatado pela arte da teatralidade sublime do momento.
A
peça conclui, mas tudo aquilo que foi vivenciado naquele dia sempre volta. O
embalar das canções, as expressivas palavras das atrizes, os gestos. E sem
dúvida, naquele dia eu soube o que realmente era um teatro.
A peça "Anáguas" foi por mim assistida no Espaço Nordeste Gurinhém/PB em maio de 2012.
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