domingo, 18 de junho de 2023

Para descalfruir


No dia 31 de maio de 2023 veio a lume pela minha astúcia em publicar algo, a obra descalfruir. O título, para fins de registro, precisa estar com inicial maiúscula. Porém, trata-se de um verbo - e não um substantivo que identifica entidades, razão possível para mantê-lo como Descalfruir. Sobre esse verbo, quero dizer que ele foi fruto de uma investigação linguística. Na minha primeira obra, Luzalma, fiz a união de dois termos, justapostos. Agora, pensei um realizar algo que se desdobrasse em mais palavras. Várias são as leituras possíveis da individualidade dos termos, nessa obra, aglutinados. O elemento descal- pode sugerir "descalçar", o processo de mudança, de alteração, de transmutação. Quanto à -fruir, temos o elemento pragmático, o uso, a recompensa, a bonança ou a necessidade. Para descalfruir é preciso estar, poeticamente, aberto ao retorno recursivo dos significados, dos caminhos rizomáticos do viver, entre a janela e a semente.

Assim, para promover a usabilidade do verbo, coloco abaixo minha intervenção com as pessoas da língua, em seus tempos e modos. 

● indicativo - presente: eu descalfruo tu descalfruis você descalfrui nós descalfruímos vós descalfruís vocês descalfruem ● indicativo - pretérito imperfeito: eu descalfruía tu descalfruías você descalfruía nós descalfruíamos vós descalfruíeis vocês descalfruíam ● indicativo - pretérito perfeito: eu descalfruí tu descalfruíste você descalfruiu nós descalfruímos vós descalfruístes vocês descalfruíram ● indicativo – pretérito mais-que-perfeito: eu descalfruíra tu descalfruíras você descalfruíra nós descalfruíramos vós descalfruíreis vocês descalfruíram ● indicativo - futuro do presente: eu descalfruirei tu descalfruirás você descalfruirá nós descalfruiremos vós descalfruireis vocês descalfruirão ● indicativo - futuro do pretérito: eu descalfruiria tu descalfruirias você descalfruiria nós descalfruiríamos vós descalfruiríeis vocês descalfruiriam ● subjuntivo - presente: que eu descalfrua que tu descalfruas que você descalfrua que nós descalfruamos que vós descalfruais que vocês descalfruam ● subjuntivo - imperfeito: se eu descalfruísse se tu descalfruísses se você descalfruísse se nós descalfruíssemos se vós descalfruísseis se vocês descalfruíssem ● subjuntivo - pretérito imperfeito: que-quando-se eu descalfruísse que-quando-se tu descalfruísses que-quando-se você descalfruísse que-quando-se nós descalfruíssemos que-quando-se vós descalfruísseis que-quando-se vocês descalfruíssem ● subjuntivo - futuro: que-quando-se eu descalfruir que-quando-se tu descalfruíres que-quando-se você descalfruir que-quando-se nós descalfruirmos que-quando-se vós descalfruirdes que-quando-se vocês descalfruírem ● imperativo - afirmativo: descalfrui tu descalfrua você descalfruamos nós descalfruí vós descalfruam vocês ● imperativo - negativo: não descalfruas tu não descalfrua você não descalfruamos nós não descalfruais vós não descalfruam vocês ● infinitivo pessoal: para descalfruir eu para descalfruíres tu para descalfruir você para descalfruirmos nós para descalfruirdes vós para descalfruírem vocês ● gerúndio: descalfruindo ● particípio passado: descalfruído ●



quarta-feira, 28 de setembro de 2022

So-corro


Fonte: ANDRADE, Daniel Everson da Silva; SEVERO, George Glauber Félix; SOUSA, Verônica Maria Rufino de (orgs.) I Coletânea de poesia cordel contos e crônicas do IFPB: homenagem a Bebé de Natércio. João Pessoa: IFPB, 2021, p. 48. Disponível em: http://editora.ifpb.edu.br/index.php/ifpb/catalog/book/404



sábado, 19 de fevereiro de 2022

Psalterium



Ao som da luz,
a consolação;
entre rezas,
apenas afiar.
Ao sabor do cheiro,
configurar
as ondas marítimas
do etéreo.
Nas nebulosas
do mistério:
abrir o livro
da temperança.
Viver futuro
na lembrança;
no limbo se marcar,
agudeza do saltério.
Eremita de paixão
de um deus interior;
o que causa estupor;
o que fura os olhos;
temido por todos:
um eu
que sou os outros.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Imagem



Depois de ler Bachelard
e ficar encantado.

Aquilo que os olhos viram;
que as mentes pensaram,
sob a chama de uma vela,
reluze diante do poeta:
o tônus perfilado,
secretamente,
da imagem.

Torna ver, no pensar,
ao som da imaginação,
a imagem, ela, 
transmutando à mente
na poética do olhar:
criar os mundos, 
sobre os mares,
na leitura-escrita,
sonhar. 

Guarda-se a imagem
no secreto da memória;
tece um manto
para lhe esconder.
Porém, surge ela,
narrando a história,
abrindo o verbo
a nos entreter.

E nos ensina,
e nos disserta,
e nos converte
de paixão.

Sendo ela mesmo
a narrativa
e a poesia
da emoção.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Morte do poeta





Ao ler sobre Fernando Mendes Vianna
por Anderson Braga Horta.

Quando morre um poeta,
morre com ele a necessidade da palavra.
Fez o café, sentou na mesa e escreveu.

Entre as linhas de uma quadra,
o último suspiro. 

Silêncio e solidão, acompanhantes,
vigiam a hora do partir.

Intimidade com a palavra é
escrever todos os dias, prega.
Daí, pega a caneta ou digita,
desliza o dedo entre metáforas.

Quem eras tu, amante da palavra,
tão sozinho entre ternos e danças
com o verbo?
Quem foi teu amor, 
quem foram teus filhos,
onde guardaste tua fortuna?

Quando morre um poeta,
morre com ele a necessidade da palavra.
Tom sobre tom de um silêncio
- que diz tudo -
necroarterial.

sábado, 31 de outubro de 2020

Emulação de Cecília

O vento voa,
a noite toda se atordoa,
a folha cai.

Haverá mesmo algum pensamento
sobre essa noite? Sobre esse vento?
Sobre essa folha que se vai?¹

Essa folha sou eu.
Caída entre tantas outras
nesse mar noturno,
cujas ondas, nebulosas,
me arrastam solitária,
para o lugar que já se foi.

Essa folha sou eu.
Cândida pétala do azul esverdeado;
resto de magia
para um amor que nunca houve,
para um amor que nunca teve,
para um amor que nunca ousou
em se chamar de amor. 

Essa folha sou eu.
Claustro do meu sono,
etéreo sonho, natimorto. 

Essa folha sou eu.
Cálida, seca, sem mim,
entre tantas outras,
nessa noite luminosa
em que sou arrastada,
conduzida e amordaçada,
findando no calabouço
que me perdeu. 

¹ Os versos compõem o poema "Epigrama n.º 09", em Viagem, de Cecília Meireles.