Educação: um tema que nunca sai
dos nossos diálogos. Na escola, na igreja, na mídia, no bar... não existe lugar
para se falar em educação. Já me peguei um dia falando de "educação"
em um hospital, num velório, durante um culto religioso; mas por que o homem
insiste em falar nesse assunto? Afinal, não há nada de novo no tema, se formos
pensar por um viés popular. Mas, o que eu quero falar hoje aqui não é sobre a
educação em si, mas sim, algo que permeia e nossa a
educação, talvez permeou a minha, permeia a sua, e vai permear a dos
nossos filhos.
Imagine uma criança sem malícia
nenhuma em seu peito. Limpíssima, alma de brilho intenso. Mas logo é colocada
dentro de um vaso. Este vaso possui tintas diversas, umas mais finas, outras
grossas, outras claras ou escuras... a criança de branca vira um emaranhado de
cores. Como sabemos, as cores possuem personalidade, o azul transmite
tranquilidade, enquanto o preto luto (para os orientais o luto é branco...), as
cores da alegria são amarelo, vermelho... e logo este novo ser vai se
delineando nessas cores. A criança nasce limpa, mas a cultura vai imprimindo na
sua personalidade o que se deve ser, ou não ser. Em minhas divagações
filosóficas fico refletindo sobre essas questões, e cheguei a mais uma nova
indagação: somos seres programados? será o que somos, quanto a nossas
características, seres inatos? Pensando e repensando, talvez não.
Quem é que nos deixa preconceituosos? Onde percebemos o caminho da
"verdade" e o da "não-verdade? A resposta é simples: a herança
cultural.
Só pela carga cultural que
carregamos nas costas desde nossa concepção materna é que
nos tornaremos os sujeitos que somos. O contato com a voz da mãe, o
primeiro contato visual com o mundo, as primeiras palavras... são elementos que
nos forjam dentro da cultura no qual estamos imersos.
Mas, o que tudo isso tem haver
com "educação"? tudo isso também é educação. Uma educação para a
vida, que forja a vida, que faz com que eu seja eu e você seja você, nos
assumindo como sujeitos. No entanto, não é isso que queremos tratar aqui.
Mas o que acontece mesmo em
termos de educação é a "repressão". Nossos sentidos desde cedo foram
condicionados a querer apenas um tipo de coisa, uma concepção unívoca, um
caminho a seguir... Por que rotular os caminhos como correto e errado? o que
mesmo determina que algo será ruim ou bom? se formos investigar, no fundo de
cada concepção de coisa certa está aquilo que valora a vida, ou seja, se não
proporciona a vida não pode ser considerado o correto, o aceitável. Isso tem um
fundo de razão. É preciso que a vida possa ser valorizada para que o ser humano
possa caminhar, existir e compartilhar experiências, forjando outros homens.
Mas nos esquecemos que nessa nossa caminhada, enquanto forjamos homens, estamos
pregando a pedagogia da repressão. Por mais que se diga "pregamos a
democracia", "todas as vozes possuem vez", nesses mundos
imaginários sempre haverão pequenas vozes não ouvidas, insignificantes.
Mas existe uma onda ainda pior, algo que não se perdoa. Não se pode nem
enunciar, mas todos nós estamos fadados a isso, e esta lástima reside no
nosso subconsciente. É algo que nem a maior eloquência na escrita poderá
lhe transmitir. E talvez nem seja preciso.
O ser humano possui um verdadeiro
dom para a repressão. Dom de calar a voz até do mais falante. De quebrar o passo
do mais andarilho, de apagar o fogo do mais ardente. Enfim, de ofuscar o brilho
de uma felicidade. Não é preciso dizer mais nada, pois eu e você temos esse
dom.
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